quinta-feira, 23 de março de 2017

Café Royal XII

A Mecanização

Escola primária. Não fez oito anos ainda. Às sete e meia, oito, levantar, arranjar, vestir, pequeno-almoço, lavar os dentes, sair de casa. Na mochila pastas com papéis, quatro livros de estudo e quatro livros de fichas, mais quatro cadernos, dois estojos, muda de roupa, o ocasional brinquedo. Um pes(adel)o. Nas semanas dos testes vai e vem tudo da escola para casa, de casa para a escola. Na mão, a lancheira. Escola antes das nove. Português, matemática, estudo do meio, inglês, ginástica, sala de estudo, pelo meio lanche da manhã, almoço, lanche da tarde. Pelas três e meia, quatro, violino (duas vezes por semana), ballet (duas vezes por semana) e os cavalos à quarta ou ao sábado. Seis e meia, às vezes sete(!), chegar a casa, trabalhos de casa, banho, pijama, jantar, dentes, xixi, cama… Aos fins-de-semana, mais trabalhos de casa e mais tantas outras falsas obrigações. Depois, começa tudo de novo. Automatizamos as crianças, encarreiradas, cumpridoras, competitivas. Entretanto, nas notícias, os concursos dos professores, os rácios, os ratings, os índices, as taxas e tantas outras estéreis quezílias de adultos, esquecendo-nos que, nessa coisa chamada “sistema educativo”, o que realmente interessa são as crianças e o único indicador que nos deve preocupar é o seu grau de felicidade.

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